Ismael Teixeira.
Patas acariciavam a presa. Lambia seu rosto no escuro selvagem. Pequenos grunidos jaziam ímpios. Sussurros. No fim um absurdo para desligar a cidade. Andava tesa. Seu corpo se movia. Andar sábio. Monótono dos felinos. Não tinha pressa. Seu olhar tudo via. Olhar de tigresa. Esperta. Olhar de onça fria. Com um só pulo entrou no carro. Não olhou para trás. Antes o lambeu carinhosamente. Olhou para seus olhos que pediam secos um segundo a mais. Sorriu. Por fim mordeu seu pescoço. Disse adeus. Sumiu. Ele era só. Ele. Ficou eternamente ali com o gosto do beijo. Com olhos fechados a viu sumir. Boca salgada. Sabores alísios de convés. Acostumada a cruzar atlânticos em navios cargueiros. Matar a solidão do mar com livros e conversas de marujos filipinos. Seus sonhos estavam já além dos sonhos. Dos destinos. Olhos. Olhos tranqüilos. De desafiar a monotonia do oceano. Mundos. Selvas. Caminhos. Tudo cabia dentro dela. Fora. Peitos. E Pernas. Sexo. Um ilustre retrato de gato. Pose de fera. Ele. Filhote. Pequeno feroz. Escondido na toca. Protegido pelas garras. Mamava em baixo dela. Dormia entre os braços fortes. Focinho manchado. Ela. Olhos. Olhos de águas. Gotas grossas. Azuis. Longos e distantes. Olhos de mãe de felinos. Contemplava-os o menino enrugado. Cansado de nadar em seus labirintos. Doce. Ficou salgado. Ali. Como uma ilha contemplando um navio que passa. Atravessou a rua olhando pro nada. Andou. Parado. Assustado e faminto como uma presa que não escapou do abraço. Perfume de pêlos. Juba. Desejos. Língua. Carne. Sangue. Hálito. Gosto quente na boca. Banquete vermelho. Salgado.
*Dedicado a Leoni Josephine - in memorian.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
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