Soul Sócrates
Arrastei a carroça até a cancela. Não havia boi nem mula. O boi desfaleceu entre a pedra e o caminho. A mula empacou e pediu alforria. Restou meu couro negro, livre, mas surrado. Amarrei as cordas nos braços e puxei. Ao chegar olhei a enxada, o trabalho e o sol. Difícil. Sem água, animais, mulher e filhos - seria custoso remoer aquele barro inteiro. Não desanimei. Escorri o suor das ventas e coloquei o chapéu no lugar. Desembestei em golpes contra o chão. Batia. Batia. Batia com vontade. A terra não iria vencer. Uma nuvem resolveu aparecer. O ar da graça resultou em golpes mais fortes e ligeiros. Acelerei. Aproveitei cada segundo de preguiça da nuvem e reticência do sol. O chão foi cedendo e o cansaço resistindo. Um respingo assim de água brotava. Água. Louvado seja. O sorriso foi se abrindo, os dentes sobrando e o olhar penetrando a terra e a água. Finalmente, juntas.
domingo, 14 de outubro de 2007
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