segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sem título

Uma homenagem a Manoel de Barros e Maiakovski

esqueçam
não são os sonhos que fazem filhos
que reviram a terra quente
e acatam o destino
enquanto mãos pelejam
sonhadores dormem
eu quero escrever somente quando as palavras secarem
e pesadas como tijolos
possam se erguer uma a uma com a força dos meus pulmões
quero versos como estacas e vigas
poemas como casas e hospitais
escolas para qualquer um dos meus camaradas
hoje a poesia é uma pedra e uma estrada
com flores, sim, mas uma pedra e uma estrada
onde até mesmo uma vírgula diminuta caiba
sem se achar minúscula
esqueçam
o sonho é somente o descanso de mãos cansadas
que após se equilibrarem no último trem
acariciam mães e filhos risonhos
papéis no último rastro de luz
hoje a poesia é pedra e estrada
sem rima, sem hipérbole, nem metáfora
poesia com flores,sim, mas calejada
como aquela plantada no quintal de uma pequenina casa
antiga casa que viveram os verdadeiros poetas
que escreviam somente o que sabiam:
tudo é vontade virando pão
e pão virando vontade.

Um comentário:

Sócrates Santana disse...

Uniu a fome com a vontade de comer, poesia.