Soul Sócrates
Antes, contudo, porém, entretanto, do velho barbudo dizer a apoteótica frase “Agora são 1979, ou não”, o menino, finalmente, usou as mãos nervosas, agora bastante firmes, lançando-as contra a goela do ancião de barba por fazer. O ato - juntamente com o uso mágico das palavras - trouxe de volta para a garganta daquele vaso ruim, a página revirada daquela história que também estava por fazer e que não seria quebrada sem antes lermos o que estava escrito naquele pedaço de papel, no momento, bastante desgastado pelos tortuosos caminhos de uma garganta exausta de discursos e parábolas sobre a vida cotidiana e pigarros sobre os bastidores e corredores dos planaltos e planícies da política partidária. Os danos eram irremediáveis, pois, não poderíamos evitar em escrita os desarranjos que uma página de livro sofreria frente uma verborrágica enxurrada de adjetivos e substantivos presos naquele sarcófago de pronunciamentos oficiais. É certo que não veremos muitas exclamações no texto, tão pouco questionamentos, afinal de contas, os discursos eram enfadonhos e cheios de peripécias positivas e progressistas, portanto, sem sobressaltos, apenas rodeios que não chegam a lugar nenhum, ou seja, um nobre cidadão para lá, digníssimo para cá, vossa excelência do outro lado e volta e meia frases de efeito moral, como “ninguém jamais ousou tanto e vislumbrou com tamanha propriedade os rumos desta nau chamada, amarelo cor de manga”. Enfim. O braço firme do menino encasquetou no pescoço do velho barbudo e arrancou a mensagem do meio de sua garganta. Os olhos do ancião mal acreditavam no gesto pouco factível que acabou sendo vítima. Olhava - estupefato - as suas cordas vocais, que enlameavam o braço riste do menino. Eram como minhocas, ou simplesmente, como linhas e labirintos que se entrelaçam feito frases e parágrafos, umas sob as outras.
Escritos sobre a greve - 1º PARTE
Escritos sobre a greve - 2º PARTE
Escritos sobre a greve - 3º PARTE
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
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