quinta-feira, 12 de julho de 2007

Escritos sobre a greve - 1º Parte

soul sócrates

A decisão foi do partido, logo, após os caquinhos serem juntados e como um quebra-cabeça encaixados uns nos outros, sem ausência de partes, iremos retomar a discussão anterior, da qual não deveríamos ter saído, mas, talvez por receio ou sapiência de que seria um árduo debate, deixamos para o final, lugar, contudo, onde não podemos parar, já que se nele chegamos depois de termos discutido o meio e o início, não é direito, ainda que a reunião seja da esquerda, ficarmos olhando para uns e outros como se estivéssemos nos conhecendo agora, fato que não é possível, porque todas as cerimônias já foram feitas na etapa inicial entre o início e o meio, então, comecemos o último fórum. O menino de braço enfaixado levantou o braço bom e perguntou, de que vale fazer um debate a essa hora, eram onze da noite, se não podemos enxergar de fato as decisões de um partido que se esfacela diante de nossas opiniões sem que seja possível juntá-las em uma só, e mesmo se fosse possível fazer tal proeza, como mostrá-la no meio dessa escuridão ? Próxima pergunta. O menino com braço enfaixado ergueu o braço sem ataduras novamente e perguntou como é possível guardar todas as palavras que fez sem anotá-las, e, se assim é, como solucionar a impossibilidade de escrever qualquer coisa no escuro e depois tornar possível a sua leitura em seguida, não seria sensato discutir a primeira pergunta antes que o sentido dela se perca na escuridão das palavras sem escrita? Irritado, o líder que não era visto, mas contava com a crença de que todos que estavam ali (ou não) o viam, respondeu para uma massa cinzenta.

Escritos sobre a Greve - 2º PARTE

4 comentários:

Anônimo disse...

emoção. voltei ao momento em que estive com o autor numa manhã de brioches.falávamos de política. da metodologia que virou a política, ou da política que virou metodologia. Aqui, ao ler, vi aquela conversa. Mas vi a conversa como se observasse, de fato, uma reunião dessas. Vazia. Sem conteúdo e prática, que seria o fundamental. Todos sozinhos. Escuro. Narcísicos? Loucos? Ultrapassados? ou simplesmente presos a uma ideologia ou "método" que não fuciona mais? Não sei. Também não sei se importa. O importante é que vale ler e reler essa maravilha.

Ah.. lembrei de outra coisa. Percebi bastante subordinadas. Isso me lembrou dependencia. Uma coisa acontece por outra. Me sugere método. "(...)após os caquinhos serem juntados e como um quebra cabeça encaixados uns nos outros (...)". Essa metáfora me encantou. Não seria mais pertinente para definir a nossa política.

isma.

Sócrates Santana disse...

É o início catastrófico de uma história, quiçar, sem fim. Sem dúvida, mas, mais do que uma crítica pura da institucionalidade em voga, creio ser também um apontamento ou simples Ensaio Sobre a Lucidez de uma população cansada, quem sabe, prestes a desperta o tão esperado monstro da Lagoa cantarolado por Chico Buarque. Tenho esperanças. Escritos sobre a greve surgiu daquela conversa, sim, é verdade. Porém, vem sendo amadurecido pela mão única que o autor pouco a pouco percorre dentro do maior partido política da América Latina. Um caminho desde já em volta. Muito pela curiosidade e as peripécias do poder, muito pelo risco e pela vaidade de entrar e sair sem ferir princípios, muito pela continuidade desta obra, mas muito, pelo poder de instrumentalização disposto que este espaço possui. Talvez, esteja diante de um meio capaz e revolucionário e ainda não percebemos o seu real valor para o soerguimento de toda uma civilização. O autor pagou para ver.
Obs: espero um comentário sobre a forma do texto.

doispontospontocom disse...

Pediu-se aqui um comentário sobre a forma do texto. Desafio. Vejo muitos pontos importantes presentes. Presentes: Novamente o uso de ambiguidades - O árduo debate deixado para o final não começa. O início do texto que sugere decisão, conclusão, ordenamento perfeito de peças, se choca com o esfacelar, com o "não podemos enxergar de fato as decisões do partido". A contradição entre o dicurso e o Discurso Heraclitiano também está e foi um presente do autor - uma deixa de conhecimento filosófico. Me chamou atenção os períodos longos. Forçando uma atenção e ao mesmo tempo desatenção. Pq? Divago. Será uma analogia à oratória política? Outro mistério. Será a massa cinzenta, única presente na reunião seja a do autor? Porque o debate mais árduo fica para depois? Onze da noite? Pq não acontece? O texto é muito bom.

isma.

Anônimo disse...

Sem dúvida este debate vai contribuir muito para a continuidade deste Ensaio, deste Escrito. A atenção sobre os longos períodos e a relação entre a retórica é uma delas.