sábado, 28 de julho de 2007

Escritos sobre a Greve - 4º PARTE

Soul Sócrates

Os objetos, coisas e carros passavam por ele enquanto assistia taciturno um mar de dúvidas e certezas serem dissolvidas por uma pequena peça publicitária plástica, que não era originária em sua composição química das novas técnicas de desenvolvimento sustentável sugeridas pelos programas nacionais de conscientização, nem tão pouco seguia as orientações dos manuais de reciclagem e aproveitamento de bens renováveis fornecidos por organizações não governamentais, mas, que carregava no conteúdo todos os critérios relevantes para o entendimento de uma mensagem, tese, argumento e conclusão. O menino de braço dolorido tomava conhecimento de uma rebelião, uma revolta, um motim que pretendia entoar no nonagésimo simpósio do partido maior uma palavra que caiu em desuso, perdeu o prazo de validade e foi protocolada e arquivada no cartório dos termos desprezados pela memória coletiva. Ergueu a cabeça, olhou em volta e percebeu entre os nebulosos e escuros becos sem saída da avenida jornalista beltrano sobrinho e terceiro, espécies de pontos luminosos organizados em pares, como se fossem lobos prontos para pularem sobre a carcaça macia de uma ovelha desgarrada. Voltou a olhar o panfleto e o guardou esbaforido na mochila desbotada que ganhou da namorada há dois anos, e seguiu.

Escritos sobre a Greve - 1º Parte
Escritos sobre a Greve - 2º Parte
Escritos sobre a Greve - 3º Parte

3 comentários:

Raiça Bomfim disse...

Esses escritos sobre a greve são mesmo muito legais. Acho interessantíssimo a forma como diversos elementos característicos da modo como se faz política em nossa sociedade, em diversas instâncias, são utilizadas no texto. Ao mesmo tempo em que encontramos uma ironia fina, própria da crítica audaz, em certos momentos, me parece que o texto também ganha ares apaixonados de um protesto. Também percebemos essa analogia num tom falacioso que é empregado, comum às organizações políticas partidárias. E o que me parece o artifício mais complexa e brilhante, é a forma como nos é incutida, pela construção da narrativa, a idéia de que a cada texto acontecem muitas coisas, de que está havendo mudanças seqüenciais na trajetória da estória, mas que, quando paramos pra pensar mais a fundo nessa trajetória, percebemos que pouco saiu do lugar.

Anônimo disse...

Incrível. O autor sem dúvida fica satisfeito com comentários e contribuições como essa. O poeta Ismael Teixeira já havia - numa análise feita sobre o primeiro fragmento desses Escritos - "falado" sobre o tom discursivo. Ele também revelava um desdém sobre a política institucionalizada. É adepto, inclusive, de ditos sobre a inexistência da política, como se ela fosse um grande vácuo que se houve falar e falar. A poeta Raiça Bomfim também interfere bem neste ponto. O autor, no minímo, percebe com felicitações o risco que corre ao tratar de um tema desses com uma narrativa também rudundante, porém, se agarra ao trecho deste comentário que fala de protesto. Muitas variáveis estão por vir, principalmente, do ponto de vista do formato narrativo. Mas, gostaria que todos fizessem comentários e digressões sobre o uso dos ícones neste texto. Greve -Esquerda - Vermelho - Partido - Protesto - Manifestação - Assembléia Geral - Simpósio - Manifesto - Mobilização.

Anônimo disse...

caro autor. demorei de escrever. precisei pensar muito até aqui. não quero colocar apenas palavras atrás de outras palavras. o pensamento mais relevante e pertinente sobre o texto que posso aqui publicar é que a narrativa me parece muito com o discurso oral e televisivo, inclusive os termos. Ao mesmo tempo continuo vejo também algo parecido com o discurso político. Os termos rebelião, motim, revolta, a forma descritiva, não sei, me chamaram muito atenção mesmo. Me parece anacrônico. Tipo revista Veja, Jornal da Globo, Congresso Nacional, enfim, essas roupas com cheiro de môfo. Mas continuo sem captar o porquê disso tudo. Será que esses textos são notícias de televisão? A sua genialidade autor me permite estar sentado com alguém que joga xadrez. Não posso simplesmente me precipitar.

Isma.