É difícil. Também espero um comentário sobre ela. De início sou surpreendido pela procura incessante das palavras, das linhas, dos labirintos que cada uma forma. Os olhos passeam desesperados à procura de sentidos e significados. E todos eles estavam no fim. Um final avesso. Ainda aguardo um comentário mais contundente.
Continuo aguardando. A id�ia pula da tela. Ela imp�e sobre o leitor um apanhado inteiro de reflex�es. A primeira delas? O que � poesia sen�o isso? Porque se esperam palavras? Porque consigo ouvir tantas coisas deste texto? No entanto, respiro fundo e me vejo inteiro dentro dele. O texto imp�e ao leitor a necessidade dele participar inteiro da obra. Ele choca, e da maneira mais radical: atrav�s da aus�ncia, atrav�s da nega�o das letras reafirmando-as na cabe�a do leitor por interm�dio da principal fonte para a cria�o da poesia: a inspira�o do poeta. A id�ia (talvez, por deslocamento n�o saiba definir o texto comentando-o simplesmente por poesia, da� o termo id�ia) � "incontinente", rebelde, ousada e irritante. A inspira�o aspira a respira�o da poesia, contando-o pela metada. Malditos poetas, desafiam a poesia. Ora vencidos pelas letras, ora imperadores das palavras. No m�nimo, o texto traduz o c�lebre grase de Drummund: "Palavras, palavras, se me desafiam, aceito o combate".
excelente análise. De fato o autor radicaliza o chamamento na obra para a participação do leitor. Ler não é juntar palavras para construir um significado semântico ao que o autor quis dizer. De uma vez por todas creio que o autor esteja cansado da inércia mental de hoje. Inércia, inclusive, criada por pessoas boas, que, pasmem, podem sair do lugar. Mas geralmente saem para ir ao Rio Vermelho no final de semana. É essa a nossa cultura, como o resto da sociedade. Uma ficção.(se não há criação como pode haver culura? Óbvio que a mesma será lixo de oportunistas para sub-humanos consumir) Novamente: ler é construir, entretanto, o momento, hoje, é copiar, e copiando vamos fazer de conta que vivemos. quero aqui deixar um repúdio a todos que podem comprar um livro e compram mentiras. À toda a classe média brasileira que olha um texto nesse blog e sente preguiça de ler. Um repúdio a vocês, verdadeiramente tolos, que atrasam nosso país e ocupam o lugar de um analfabeto. Saibam que a elite, numa civilização decente, só é elite pois detêm o poder do saber, a capacidade de guiar. conduzir. Bem. Finalizando, como diria Vinícius: "Pra você que lê e não sabe, pra tonga da mironga do kabuletê"!!!!
"Essa gente do Brasil é muito burra E não enxerga um palmo à sua frente Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente (...) A "elite" que devia dar um bom exemplo. É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento. Num complexo de superioridade infantil. Ou justificando um sistema de relação servil. E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação. Não tem a união e não vê a solução da questão. Que por incrível que pareça está em nossas mãos. Só precisamos de uma reformulação geral. Uma espécie de lavagem cerebral". Talvez, um dos momentos mais brilhantes do Gabriel Pensador...otimista, no entanto, acredita numa reformulação. Sò que tem que ser geral, enfatiza. Tenho receio muitas vezes de enxergar o mundo desta maneira. O poeta Ismael teixeira instiga uma revolução, uma inversão imediata dos valores, mas, principalmente, uma reviravolta do processo criativo e produtivo. Produzir para quê? É a pergunta. Assino em baixo. Ainda irei estampar desta forma e de maneira permanente o meu repúdio. Mas, desde já, revelo todo o meu desprezo à burguesia ou seja lá o que forem eles.
Sérgio Augusto Não seria ótimo que uma só palavra pudesse expressar aqueles presentes que a gente dá para aplacar uma culpa? E aqueles desejos e caprichos que costumam acometer as mulheres grávidas? Não poderiam ser resumidos numa só palavra? E aquilo que a gente sente por uma pessoa que um dia amamos, mas deixamos de amar? Não teria um nome? Tem, sim. Para tudo existe uma palavra. Pena que quase sempre em outra língua e geralmente intraduzível.Foi o que aprendi vivendo, viajando—e, acima de tudo, lendo um livro do professor Howard Rheingold, intitulado There´s a Word For It, lançado no final da década de 80. Ao lado de vocábulos já universalizados, como déjà-vu (que já consta do Aurélio), mantra (idem) e bricoleur, Rheingold listou outros, que são autênticas preciosidades semânticas, boa parte em idiomas tão fora do alcance comum como o sânscrito, o chinês, o javanês, o balinês e o havaiano. Não incluiu a nossa tão decantada e superestimada saudade, no que, a rigor, fez bem, já que ela pode ser substituída, sem grandes perdas, por nostalgia, longing, Sehnsucht e banzo.Mais singulares do que saudade, por exemplo, são Drachenfutter, dohada e razbliuto. Agora vocês já sabem como expressar de forma concisa (Drachenfutter) aqueles mimos com que os maridos farristas e adúlteros presenteiam as suas Amélias, após uma noitada fora, aqueles desejos e caprichos (dohada) que costumam acometer as mulheres grávidas, nas horas mais impróprias, e aquela estranha afeição (razbliuto) que sentimos por alguém que deixamos de amar. Drachenfutter é um termo alemão; dohada é tão sânscrito quanto mantra; e razbliuto, apesar da sonoridade italiana, veio da Rússia.O alemão pode ser uma língua eufonicamente bisonha, de pedregosa prosódia, para muitos impenetrável, mas sua versatilidade semântica, digamos assim, talvez só não seja maior que a do inglês. Vivemos cercados de termos alemães, incorporados não apenas ao jargão musical (Lied, Leitmotiv) e filosófico (Gestalt, Dasein), mas também a instâncias mais elásticas, como Zeitgeist (espírito do tempo), Doppelgänger (duplo) e Weltanschauung (cosmovisão), esta última já incluída no Aurélio. Outros mais poderíamos agregar ao nosso vocabulário, enriquecendo a língua franca a que fomos inexoravelmente condenados. Pela prosaica razão de não dispormos de similares para Drachenfutter, Torschlüsspanik, Korinthenkacher, Weltschmerz e Schlimmbesserung na última flor do Lácio, mal não faria a vulgarização desses vocábulos entre nós. A menos, é claro, que conseguíssemos sintetizar numa só palavra o medo que as moças solteiras sentem quando começam a passar da idade de casar (Torchlüsspanik), aquelas pessoas extremamente preocupadas com detalhes irrelevantes (detalhista é pouco se comparada a Korinthenkacher), a cavernosa tristeza de certos jovens (Weltschmerz) e o resultado adverso de um suposto aprimoramento (Schlimmbesserung).Se ditames protecionistas nos obrigassem a incorporar apenas uma palavra do alemão, eu abriria mão de todas as citadas para ficar com Schadenfreude. Esta é tão significativa e única que americanos e ingleses a utilizam com freqüência há muito tempo (oficialmente desde 1852, que foi quando o arcebispo R.C. Trench empregou-a pela primeira vez na Inglaterra), inclusive em textos jornalísticos, sem ter de explicar entre parêntese o seu significado, pois boa parte dos povos de línguas inglesas sabe que Schadenfreude (pronuncia-se chadenfroid) é aquela sensação de prazer que a desgraça alheia nos provoca.Por que rimos quando alguém escorrega numa casca de banana? Schadenfreude.Por que tantos se divertem com as agressões mútuas dos Três Patetas? Schadenfreude.Por que tantos se regozijaram com a situação de Pinochet em Londres? Schadenfreude.No carnaval de 1947, Francisco Alves lançou um samba de Benedito Lacerda e Herivelto Martins, “Palhaço”, que começava assim: “Eu assisti de camarote/ O teu fracasso/ Palhaço/ Palhaço...” Schadenfreude puro.É mais do que um sentimento sádico, uma desforra ressentida, uma emoção cruel. Ou seja, é tudo isso somado a mais alguma coisa, uma vingança metafísica. Nada mais humano, no sentido de próprio do ser humano. Nem os mais bondosos cristãos deixaram de sentir um Schadenfreude quando souberam da morte de Hitler. Emoção diabólica, “sinal infalível de um coração perverso”, achava Schopenhauer. Nietzsche discordava. Para ele, a única coisa melhor do que ver um desafeto sofrer é fazê-lo sofrer. Schopenhauer e Nietzsche não podiam faltar —e não faltam— no livro que John Portmann dedicou à expressão Schadenfreude, When Bad Things Happen To Other People (Quando os outros entram pelo cano), recém-lançado pela Routledge International Thompson Organization (242 págs., US$ 26,95). Portmann fez um cuidadoso ensaio filosófico, explorando os variados ângulos do que, a certa altura, define como “um emoção, ao mesmo tempo, pungente e mercurial”, citando aqui e ali algumas pérolas do Schadenfreudismo. Como esta, de La Rochefoucauld: “Sempre encontramos algo que não nos desagrada nas adversidades de nossos melhores amigos”. E esta, de Mark Twain: “Para ser profundamente magoado, você precisa da ação conjunta de um inimigo e um amigo; o inimigo para falar mal de você e o amigo para lhe trazer o notícia”.As melhores, porém, são de Gore Vidal. “Toda vez que um amigo meu faz sucesso, eu morro um pouco”. Mais Schadenfreude do que essa, só esta: “Não basta ser bem sucedido; os outros também, precisam fracassar”.
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, a 17 de dezembro de 2000.
5 comentários:
É difícil. Também espero um comentário sobre ela. De início sou surpreendido pela procura incessante das palavras, das linhas, dos labirintos que cada uma forma. Os olhos passeam desesperados à procura de sentidos e significados. E todos eles estavam no fim. Um final avesso. Ainda aguardo um comentário mais contundente.
É difícil. Arte. Essa, me negarei a postar comentários. Receio borrar a sua pureza.
Continuo aguardando. A id�ia pula da tela. Ela imp�e sobre o leitor um apanhado inteiro de reflex�es. A primeira delas? O que � poesia sen�o isso? Porque se esperam palavras? Porque consigo ouvir tantas coisas deste texto? No entanto, respiro fundo e me vejo inteiro dentro dele. O texto imp�e ao leitor a necessidade dele participar inteiro da obra. Ele choca, e da maneira mais radical: atrav�s da aus�ncia, atrav�s da nega�o das letras reafirmando-as na cabe�a do leitor por interm�dio da principal fonte para a cria�o da poesia: a inspira�o do poeta. A id�ia (talvez, por deslocamento n�o saiba definir o texto comentando-o simplesmente por poesia, da� o termo id�ia) � "incontinente", rebelde, ousada e irritante. A inspira�o aspira a respira�o da poesia, contando-o pela metada. Malditos poetas, desafiam a poesia. Ora vencidos pelas letras, ora imperadores das palavras. No m�nimo, o texto traduz o c�lebre grase de Drummund: "Palavras, palavras, se me desafiam, aceito o combate".
excelente análise. De fato o autor radicaliza o chamamento na obra para a participação do leitor. Ler não é juntar palavras para construir um significado semântico ao que o autor quis dizer. De uma vez por todas creio que o autor esteja cansado da inércia mental de hoje. Inércia, inclusive, criada por pessoas boas, que, pasmem, podem sair do lugar. Mas geralmente saem para ir ao Rio Vermelho no final de semana. É essa a nossa cultura, como o resto da sociedade. Uma ficção.(se não há criação como pode haver culura? Óbvio que a mesma será lixo de oportunistas para sub-humanos consumir) Novamente: ler é construir, entretanto, o momento, hoje, é copiar, e copiando vamos fazer de conta que vivemos. quero aqui deixar um repúdio a todos que podem comprar um livro e compram mentiras. À toda a classe média brasileira que olha um texto nesse blog e sente preguiça de ler. Um repúdio a vocês, verdadeiramente tolos, que atrasam nosso país e ocupam o lugar de um analfabeto. Saibam que a elite, numa civilização decente, só é elite pois detêm o poder do saber, a capacidade de guiar. conduzir. Bem. Finalizando, como diria Vinícius: "Pra você que lê e não sabe, pra tonga da mironga do kabuletê"!!!!
isma.
"Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma
mais consciente (...) A "elite" que devia dar um bom exemplo. É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento. Num complexo de superioridade infantil. Ou justificando um sistema de relação servil. E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação. Não tem a união e não vê a solução da questão.
Que por incrível que pareça está em nossas mãos. Só precisamos de uma reformulação geral. Uma espécie de lavagem cerebral". Talvez, um dos momentos mais brilhantes do Gabriel Pensador...otimista, no entanto, acredita numa reformulação. Sò que tem que ser geral, enfatiza. Tenho receio muitas vezes de enxergar o mundo desta maneira. O poeta Ismael teixeira instiga uma revolução, uma inversão imediata dos valores, mas, principalmente, uma reviravolta do processo criativo e produtivo. Produzir para quê? É a pergunta. Assino em baixo. Ainda irei estampar desta forma e de maneira permanente o meu repúdio. Mas, desde já, revelo todo o meu desprezo à burguesia ou seja lá o que forem eles.
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