segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Pequeno Tratado sobre a genialidade

Ismael Teixeira

A única diferença entre os homens são suas escolhas. A parede que separa o idiota e o gênio é a ambição. Nada mais. Poeta são todos. Mesmo que poucos saibam. Fernando Pessoa já aconselhara a humanidade que somos do tamanho que vemos. E é justamente na visão o tamanho do problema. Heráclito incita que o saber recusa-se a nós, os falantes, para nos instituir como diferentes. Enquanto o sábio enfrenta o mundo em busca de seu alimento, os imbecis sonham que mamam. Ser gênio é matar a si mesmo. O chamado século das luzes nada mais foi que contradições. Insatisfação de uma condição criada e o esforço de superá-la. Esforço. Palavra mágica por desmistificar a mágica. O imbecil, para Heráclito, é aquele que vive excitado por sonhos, visões, contos, cantos e falas. O gênio simplesmente aceita a guerra e mata. Ao contrário do mito do Super-homem, do ser que salva o indefeso quando está em perigo, construção levianamente forjada para manter os seres na fase oral, fase infantil de subserviência e dominação, não existe homens maiores ou menores. Sócrates viveu o tormento de duvidar de si mesmo. Coragem. Jesus sofreu humilhações por amar como ninguém amou. Coragem. Gandhi se recusou de ser dominado e dominar e aceitou viver simples como uma pena no mundo. Coragem. Enfim. A superação de si mesmo, o sacrifício de negar a condição imposta do mundo nada mais é que a genialidade. É bem verdade que muitos gênios houveram sem a história dar uma linha. Muito mais que pensamos. Para finalizar. Novamente quero chamar atenção para a primeira frase do texto. A única diferença entre os homens são suas escolhas. Talvez com ela tire aqui a totalidade de todo meu esforço com as demais palavras e exemplos. Escolha é muito mais que optar, é saber como e porque se existe.

domingo, 23 de setembro de 2007

Cores dela.

Ismael Teixeira

Cheio de tinta. Molho o café. Mãos, penas, desejos. Anoto nos meus cabelos versos que andam em pé. Diariamente o instante perfeito. Som de pipoca doce no peito. A pular palavras. Palavras para sentir. Sentir brincadeiras mudas de nossas mãos de chuva. Sóis, flores, casinhas com nuvens passeiam em nosso jardim. No corpo que pintamos um do outro. Fingindo morar dentro de mim. O mundo é belo quando é belo. E belos cantamos. Suamos tinta nos lençóis. Transformando cama em quadros. E quadros em sonhos. Nos teus seios bocas soltas. Sobremesas de amoras. Roxas. Sobre o branco morango. Sobre o vermelho intenso das tuas coxas meus dedos castanhos. Esfumaçando a chaleira. Uvas em cada língua. Livres rosas intumescidas. Sem pressa de serem presas. Comidas. Amor derramando amor. Poço de aquarela. Rio de carmim. Quase de manhãzinha enxugamos as telas. Guardamos tudo em caixas e expomos por aí.

*Para ela.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Submarino

Ismael Teixeira

Sou um talho. Um corte. Sangro toda vez que me toco. A mão desafia a morte. O cano de vento frio contra os olhos. Hoje qualquer palavra mata. Basta. Os versos são ventanias. Mas ainda marcham esperanças em veleiros. A terra o mar e a seis maria. Marcham também sorrisos. Lanternas no escuro. Rutilam. Palmilho ruas de eletro-choques. Na cidade de páginas cansadas. Folhas mortas. Escrevo nesse caminho. Em cima dos livros desertos. Ando escrevo caminho. Como se falasse um só verbo. Hoje qualquer palavra mata. Basta. Mas a poesia continua acordada. O inverno é quando o tempo fala. Com a força de suas guelras. A chuva mantém acordados. Eu. Os livros. E o poeta. Todos os peixes. Todos os filhos dessa terra. De líquido bilioso. Assim Mensagens são mandadas em coágulos aquáticos. Transfusão frenética. Somos talhos. Cortes. Porque poesia é guerra. Inverno quente. De suar sangue. Guerra. Embalados pelo tempo nadamos por entre artérias.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Carta de um caixeiro viajante.

vivemos o que só nós vivemos. encontrando sábios de pés descalços. profetas em forma de crianças. santas que vivem nas cozinhas. que matam a fome do mundo. vivemos o que só nós vivemos. dormindo nos pastos. nos braços da estrada. e quando vejo aquele mundo inteiro passear pela janela acredito em mim, em você e em todos aqueles que sonham a realidade. sonham a realidade. sonho. realidade. combinação perfeita como diria o mestre cabacinha em seu transe de paz e justiça. vivemos o que só nós vivemos. acreditando no que acreditamos. todos. vermelhos. porque simplesmente amamos. porque simplesmente queremos. esse registro em forma de sentimento que escrevo no extremo de suas lágrimas naquele momento em que só nós vivemos, no último andar dos nossos corações. essa carta. somente nossa. é um simples obrigado. não somente por está ali comigo, mas por acreditar também naquilo. aquele chão. não é somente chão. aquela terra. não é somente terra. mas algo que talvez seja impossível ainda compreendermos. talvez nunca. mas quem sabe. como num milagre. como esses milagres que acontecem por aí. nasçamos, como por encanto, novamente, numa barraca de lona e sejamos realmente felizes. nasçamos com aquele gosto de café da índia Edite, ou do abraço da verdadeira educadora Tonha, da fé de Dona Liu, das aulas de Betão, da vida de todos eles, que num simples respirar daquele pó já olhamos diferente. sentimos diferente. termino com a frase de chê vinda de seus momentos sempre geniais: quando o extraordinário estiver no cotidiano mais comum aí se deu a revolução. revolução companheiro. agora e sempre.

Com carinho,

Ismael.