segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Carta de um caixeiro viajante.

vivemos o que só nós vivemos. encontrando sábios de pés descalços. profetas em forma de crianças. santas que vivem nas cozinhas. que matam a fome do mundo. vivemos o que só nós vivemos. dormindo nos pastos. nos braços da estrada. e quando vejo aquele mundo inteiro passear pela janela acredito em mim, em você e em todos aqueles que sonham a realidade. sonham a realidade. sonho. realidade. combinação perfeita como diria o mestre cabacinha em seu transe de paz e justiça. vivemos o que só nós vivemos. acreditando no que acreditamos. todos. vermelhos. porque simplesmente amamos. porque simplesmente queremos. esse registro em forma de sentimento que escrevo no extremo de suas lágrimas naquele momento em que só nós vivemos, no último andar dos nossos corações. essa carta. somente nossa. é um simples obrigado. não somente por está ali comigo, mas por acreditar também naquilo. aquele chão. não é somente chão. aquela terra. não é somente terra. mas algo que talvez seja impossível ainda compreendermos. talvez nunca. mas quem sabe. como num milagre. como esses milagres que acontecem por aí. nasçamos, como por encanto, novamente, numa barraca de lona e sejamos realmente felizes. nasçamos com aquele gosto de café da índia Edite, ou do abraço da verdadeira educadora Tonha, da fé de Dona Liu, das aulas de Betão, da vida de todos eles, que num simples respirar daquele pó já olhamos diferente. sentimos diferente. termino com a frase de chê vinda de seus momentos sempre geniais: quando o extraordinário estiver no cotidiano mais comum aí se deu a revolução. revolução companheiro. agora e sempre.

Com carinho,

Ismael.

3 comentários:

Sócrates Santana disse...

Apenas as lágrimas que não podem ser escritas podem expressar o que sinto no instante mesmo em que escrevo essas palavras...apenas elas...lágrimas de felicidade, a síntese da vida humana. Avante camaradas, avante...

Raiça Bomfim disse...

Há dias venho aqui, passo e repasso por essas linhas e saio silenciosa pra não perturbar o abraço...
Acho que a arte é matéria de infância (bem sabia seu Manuel). Por mais madura e austera que possa se apresentar, ou sem propósito e irresponsável que possa figurar, me parece que é, a arte, inevitavelmente a busca e o produto da filiação mais pura com o mundo, d’algo sedento de origem, do assombro.
Se a vida, para assim sê-lo, prescinde de movimento, a sabedoria, nessa mesma lógica, só existe no transito com o que nos cerca, a comunhão. Todo dia, há muito o que se aprender. E esse aprendizado que se inicia no nosso íntimo, em nossa solidão, só se concretiza ao ganhar o outro, seja esse outro gente, bicho, planta, horizonte, coisa. A forma como esse transito se dá é sempre particular. Vai da ação de um olhar, de um gesto, à guerra. Cada qual que escolha suas armas, suas bandeiras, sua paz.
A poesia pra mim é sabedoria. Uma das formas de sabedoria. Mas muito mais sábia é a poesia que reconhece que mesmo sendo um transito em si mesma, tem muito mais força e beleza se transita com outras formas de diálogos, de ação; se percorre o corpo todo e o lança em terra numa jornada análoga a que a palavra faz na alma. É a poesia que fala da terra e pisa na terra, a poesia que fala da fome e pega na enxada, a poesia que fala da saudade e comanda navios. É o que encontro por aqui. É o que encontro em vocês dois. O que encontro nesses dois pontos que convocam a próxima sentença e que se mantêm firmes, em sua possibilidade, para que ela se desenvolva. Talvez por isso, muitos vezes me pareça indigno tecer um comentário antes de permitir que a beleza que as palavras que aqui encontro me inspiram se manifeste concretamente no espaço, nessa terra onde vivo e por que vibro e choro.
Mas hoje resolvi perdoar-me a fraqueza e alimentar minha força partilhando, apaixonadamente, como criança frente aos sonhos, desse abraço aqui.

Sócrates Santana disse...

Lindas palavras Raiça...puras.