quarta-feira, 4 de julho de 2007

Três momentos para o Oscar

Ismael Teixeira

O relógio passa o passageiro corre abre o chuveiro chora morrendo de rir. Bom dia. Bom dia. Liga abre a revista volta bebe o café aposta no time que vai cair. Um momento. Telefone. Bom dia. Bom dia. Levanta senta escreve a pauta da notícia que não é mais notícia de uma notícia que ouviu dizer de alguém. E olhando um quadro abstrato pensa sonha canta lembra outro alguém que pensa também existir. Um momento. Almoço. Fuma traga cospe a fumaça do cigarro objeto de consumo diário que pára o tempo para parar para pensar. Pensa não pensa porque lembra de uma reunião que passa do outro lado da sala e precisa entrar. Entra pára para discutir um tema problema de outros problemas de problemas outros quando se aborrece de um problema que desconhece e desce pelas ruas sem saber onde deixou o carro estacionado ao lado onde sempre deixa o carro. Um momento. Come deita dorme. O relógio passa o passageiro corre abre o chuveiro chora morrendo de rir. Bom dia. Bom dia. Escreve olha o texto antes de começar outro texto e conta três momentos perfeitos no emaranhado de muitos verbos. Sorri olha pensa sorri olha pensa coloca o título Três momentos para o Oscar. Consegui.

6 comentários:

Anônimo disse...

É difícil. Uma leitura rítmica. Mais uma vez. Ainda mais ousada. Bem próxima do falar e do pensar simultâneo. Uma leitura atenta assegura seu sentido. Uma leitura desinteressada, talvez, não.

Sócrates Santana disse...

Com certeza, uma leitura vinculada ao leitor vanguardista anteriormente sugerida.

Sócrates Santana disse...

O chuveiro chora morrendo de rir. Chuachuachuachua...
O passageiro, inteiro, entra no chuveiro pela metade, metade ler (liga), metade bebe café enquanto aposta no time, enquanto deseja bom dia e aposta no bolão, bom dia bolão qual é a pauta do dia. E tudo vira consumo diário, tudo vira restos do dia...mas o relógio pára ou deveria parar...cabe ao cigarro a tarefa.
Obs: lembro muito bem desta lembrança nos corredores da faculdade.
Belo saque: sorri olha e pensa, sorri, olha e pensa
Cuspi

Anônimo disse...

sim. cinema não é história, assim como literatura também não é. O ato de ler não pode apenas está subordinado a decodificção de uma lingua mas além dela. O momento da leitura é a possibilidade de ir além através de outras leituras e no meu particular, enquanto leitor, gozo o texto que exija de mim também que eu escreva. O autor nesse texto experimenta possibilidades. viva a arte.

Isma.

Anônimo disse...

Três momentos para o Oscar é interessante por vários aspectos. Primeiro por quebrar a organização da oração: Sujeito, predicado, etc depois o excesso de verbos e o ritmo acelerado. É muito claro que gera dificuldade de ler, principalmente para os leitores menos proeficientes, entretanto, a etética é informação a mais no discurso e enriquece o texto. Nesse caso a estética usada tenta a semantica com o padrão de vida contemporâneo. Se fizermos uma leitura oral do texto cansamos. Quero destacar também o vazio narrativo, o dizer de ações sem um sentido. O texto não tem uma direção e mais relata que informa. Aí, sutilmente, o autor chama atenção para o atual momento: a ausência do ordenamento, da razão. Os verbos sem sujeito dão um sentido passivo ao personagem e o imperativo deles fazem seu dia. No final uma pérola, o dia do personagem é seu próprio texto, ambos se misturam. Vida real e a vida smbólica numa só, captadas em três momentos resumindo sua felicidade.

isma.

Anônimo disse...

O verbo aqui e alí lembra uma encruzilhada (no sentido metafórico), que vai remeter o leitor "proeficiente" a especular em sua mente qual será o próximo passo e decisão, talvez. No movimento do verbo, aparece a possibilidade de errar o caminho.
O ritmo rápido exigide decisões rápidas, um jogo de xadrez cronometrado onde o leitor é colocado em cheque, numa encruzilhada em que o tempo do pensar, parado, lhe tira pontos. O verbo em sua infinitude, na sequencia disposta aqui, permitirá movimento, vai lembrar as muitas encruzilhadas da cidade grande. Numa narração seca (que leva o narrador para longe), projeta o leitor no texto.
O leitor ao se posicionar da esquina de uma viela ou avenida, sobre qual direção vai tomar, encontra a possibilidade de voltar e escolher no cruzamento anterior, outra direção. Cansa, quando a mente do leitor corre a infinitude do verbo, e as esquinas, vielas e becos de cruzamentos da cidade grande pela velocidade que deslancha e no texto nos pára bruscamente na decisão de qual direção tomar,
ou não, apenas decide seguir a mesma direção. A primeira leitura, não raro leva o leitor a se perder, em parte, na infinitude e no movimento dos verbos.

G. Andrade