terça-feira, 14 de agosto de 2007
Profecia urbana
Tudo mal, mas tudo bem, o presente é quase sempre como todo mundo diz. Ficarei esperando na tevê o que falta acontecer. Tenho pedras nos sapatos. Atirarei quando for insuportável. O apocalipse virá e ninguém irá ter tempo para ver. Virá num grito surdo de qualquer mendigo ou numa bomba H. Nosso messias terá cheiro de gasolina e óleo diesel. Os anjos serão mulatos. Nordestinos. Os santos serão mulatos e voarão em plataformas dos prédios inacabados. Mulatos. Constroem cidades. Morros. Babel. Mas ninguém vê a torre. O cheiro de enxofre. Tudo errado, mas tudo bem, tudo quase sempre como sempre quis. Ficarei esperando na tevê o que falta acontecer. As ruas têm cheiro de gasolina e óleo diesel. Crianças passeiam com isqueiros de pés descalços. Não importa seus atos. A igreja. O shopping ainda está a salvo. Mas deu no rádio. Uma garota com overdose de café. Na tevê. Na tevê. Na tevê. Ninguém quer comer. A sorte tem um corte de desesperados. Paz enquanto os carros estiverem estacionados. Tudo mal, mas tudo bem, o presente é quase sempre como todo mundo diz. Vamos ver. Deus disse na revista que está contra todos. Vamos ver. Deu na revista. Deus estava com um vestido decotado. Meu cabelo também está penteado. Vamos ver. Os carros estão estacionados. Vamos ver. Os carros estão estacionados.
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5 comentários:
Hummm....texto fresquinho, e maravilhoso, como sempre.
Bjão!!
Estive com o autor na segunda-feira. Conversei com ele e falei do traço narrativo do texto. Sem dúvida, uma profecia sem igual, recheada de fragmentos e imagens soltas e aparentemente desconexas. Um texto eminentemente contemporâneo, que relata com pessimismo o movimento alienado de uma geração e uma época repleta de certezas momentâneas e, insistindo neste caráter íntimo do autor, na ausência do pensamento, do exercício de pensar as coisas nas suas miudezas.
É irresistível não comentar as características deste messias, que tem o cheiro inconfundível de Chico Buarque de Holanda, na célebre canção em parceria com Gil, Cálice. "Quero perder de vez tua cabeça. Minha cabeça perder teu juízo. Quero cheirar fumaça de óleo diesel. Me embriagar até que alguém me esqueça". Será o messias do Chico? Na verdade o messias não existe. Ele é simplesmente este algo que virá sem avisar, porque não há tempo para construirmos ele sem que tenhamos a noção de que isso foi feito. O messias virá, certamente, mas, não veremos.
Notícias. Não precisamos mais ver pois as noticias nos mostram um mundo ao mesmo tempo numa eminencia do apocalipse e tão próximo do paraíso. Esse maniqueísmo entre o bem e o mal, tão próximos, entre uma notícia e outra. O frenesi, as coisas óbvias e misteriosas numa mesma roda de tarô que anuncia os jornalistas todos os dias. "Vamos ver". Incita o autor de forma dúbia. Vamos ver tevÊ e / ou vamos ver por nós mesmos. Frases soltas, como falou o sol é mesmo uma característica do texto contemporâneo. A fragmentação, esquizofrenia de um mundo patológico. Não podemos esquecer da "musica urbana". Um clássico do capital inicial da década de 80 que inspirou totalmente esse texto. A música apocalítica, contemporânera, mostra um personagem que tem a ousadia de passar por cima do caos como os punks faziam na europa. O texto tem uma pitada punk e apocalíptica. Refazendo um messias guerreiro, como pinta os orientais e americanos, a paz e a violência nas grandes cidades, o poder da mídia, a questão da crença e da ideologia... tudo misturado, como é a nossa própria vida. Perdemos o controle. Já perdemos o controle.
isma.
deus estava na revista com um vestido decotado, kkkkkkkkkk, gostei demais do sarcasmo
beijos, dear e valeu a visita! volte sempre que quiser
MM.
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