segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mulher do mar

Mari Almeida
Sou mulher que gosta de mar. Vejo ondas entre os carros que entopem a avenida 23 de maio. Ora é manhã, e o sol bate brilhando na maré cheia. Ora é noite, e a lua prateia meu mar de concreto. Penso em mar quando percebo, nos olhos verdes de quem passa, um tiquinho de emoção umedecida. Cheiro da areia, da maresia, do vento salgado... toda vez que essa saudade bate - não ria! - passo protetor solar, só pra lembrar. Sou mulher que gosta de mar. Penso no entardecer baixando no horizonte calmo e cristalino olhando o lago do parque, para me transportar no meu barco imaginário - total flex e popular - aos beira-mares por onde já passei, molhei os pés e fiquei a imaginar aonde acabaria todo aquele infinito. Mas o mar está longe, vai e vem só na lembrança, nas fotos que guardo em álbuns dentro de um armário. Ainda serei mulher do mar, a enterrar minha raiz na areia branca, a mergulhar minha alma nas ondas calmas, a chorar minhas perdas nas grandes ressacas e a deixar partir a nau sem rumo que foi a minha vida até aqui, longe do mar.

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