terça-feira, 11 de novembro de 2008

Liquefeito

Sócrates Santana
O casal se enrolou no último Carnaval. Aos pés do poeta deitaram e dormiram. Além de acordarem sem saberem o nome do outro também esqueceram a camisinha. Nada de aids nem sífilis. Uma gravidez indesejada. Ela voltou para São Paulo e dele não se sabe o paradeiro. Nove meses se foram rápido. Ela voltou para Salvador, encontrou o rapaz e entregou a criança. “Não tenho como criá-la”, explicou. Ele retornou para casa e pagou o aluguel adiantado. Comprou um berço e uma passagem para São Paulo. Saiu para o trabalho e deixou o fogão ligado. O gás liquefeito se espalhou pelo apartamento e asfixiou o bebê. “Encomenda para Cecília?”, avisou o carteiro. Abriu a carta e leu a mensagem. “Preferia o aborto”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Forte, duro, triste... coisas ditas de um jeito q mandam a gente calar a boca e ouvir. Qtos seres assim são desperdiçados, pagam preços de contas que não são suas e perdem a chance de viver e mudar rumos? Bacana, Sócrates. Aqui e no fim do dia. Abço.

Anônimo disse...

Desculpa! Esqueci de assinar a postagem. Abços de Mari Almeida.

Anônimo disse...

Chegou no ponto deste conto. É, sem dúvida, uma visão perversa mais extremamente utilitarista do aborto. Nunca vivi a experiência, mas, tenho muito exemplos para refletir. Foi o que fiz. Sei que choca, mas, como a Silvia Loeb disse: a surpresa vem de onde nós menos esperamos.