domingo, 11 de novembro de 2007

E o povo será povo

A chuva de signos perpetrada pelo capitalismo é o principal mecanismo de alienação de uma sociedade. As experiências da propaganda, amadurecidas na história com as religiões, principalmente a católica, ganhou status com a difusão dos meios de comunicação e passou a servir a ideologia do capital, de forma cada vez mais exagerada, durante todo o século XX. Os meios de comunicação, que dantes, poderiam proporcionar a democratização do conhecimento e, portanto, ampliar a cidadania para todo o corpo social, como aconteceu inicialmente com o uso da imprensa de Gutenberg na Reforma multiplicando o número de bíblias, se voltou para finalidades autoritárias. Os detentores dos meios de produção transformaram o conhecimento e a informação uma mercadoria de uso restrito e hierarquizado como nos primórdios. O alto poder tecnológico que poderia ampliar a proporções grandiosas a polis, e com isso, criar um super-cidadão, capaz de interferir fora do tempo e espaço comum em todo o debate social, foi reduzido ao primitivismo dos grandes currais virtuais. A estratégia do capitalismo é constituir o cidadão aquele capaz de consumir informações e excedentes, criando uma realidade hiperbolizada de signos e representações fantásticas na qual ele acessa cada vez que consome. Essa fantasia, exagerada pela mídia, é uma forma de prêmio pelo qual se justifica toda a decadência da qual esse cidadão vive e, por ser totalizante e imprescindível à sua cidadania, fenômenos como a violência, a corrupção, o meio ambiente, as desigualdades ficam renegadas ao Estado ausente e displicente. Negando a cultura dos intelectuais que num jogo teórico e complexo executam seus argumentos sem conclusões práticas e otimistas, com tranqüilidade fico do lado de Sócrates Santana quando afirma que os movimentos sociais são os principais protagonistas da sociedade hoje capazes de realizarem de fato transformações sociais plausíveis. Só no que tange a discussão levantada nesse texto, os movimentos sociais são capazes de criar uma outra lógica ao modelo de difusão ideológica capitalista. Essa negação é muito mais complexa que aparenta, e não se limita apenas em formações de ideologias independentes. Essas organizações ao negarem o modelo as céptico burguês calcado de valores e doutrinas minuciosamente resignificadas para a dominação procuram outra lógica e a encontram justamente na realidade em si mesma. Ou seja, começa-se a perceber uma nova realidade que é a velha e que sempre existiu, embora estivesse violada pela fantasia do capital. Essa realidade, ao mesmo tempo bruta e com significações locais, começam a ser identificadas e apreendidas. Assim, a velha identidade torna-se nova, resignificada por uma compreenção mais consciente e fiel a sua criação. A dialética escamoteada pela “paz” de um mundo sem contradições e desigualdades capitalistas aparece mais claramente. O povo reconhecido em si mesmo compreende a sua força e o seu poder por entender e dominar sua cultura, seus meios de produção de identidade e significação, fazendo com que o inglês vire espanhol, que a europa vire américa latina, que o carnaval vire samba de roda, que o povo seja povo.

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