quarta-feira, 16 de julho de 2008

O signo da água

Sócrates Santana

Finalmente, o governo terminou as instalações dos reservatórios. Esses vão receber dos canais construídos entre o grande rio vindo do Norte e o grande rio comprido que corta o país do Norte a Sul, toda a água necessária para matar de morte matada e fulminante – sem espaço para maiores justificativas da história política daquele estado-nação – a sede ainda não saciada pela longa engenhoca inventada, deus sabe lá por quem, para acabar definitivamente com a vontade de beber de um povo que por desuso ficou habituado a apenas a creditar que esse dia chegaria, mas sem jamais convir de que tal momento realmente seria realmente real, verdadeiro, distante de uma miragem maldita que acendia na cabeça uma idéia falsa de fim e começo de uma nova vida, banhada pela pura água, palavra que ainda era sabida, que por lenda ainda sobrevivia na língua cativa daquela gente, ainda que pouco pronunciada, ainda que a forma e a função para que servia jamais tenham sido unidas numa coisa que fosse ao mesmo tempo as duas, sem nem mesmo dividir, sem que o significado desta possua uma referência visível para dizer, isto é, como se fosse aquilo apontado com o dedo para algo que de tão distante da realidade fez confundir o miolo do mais dedicado filosofo kantiano, o qual diante de tal quadro de escassez, viu que a palavra havia ganho a condição de representada em deriva da condição imposta de representação. Foram décadas, séculos, milênios de promessas mirabolantes, sofistas, politiqueiras e eleitorais. A palavra havia ganho valor sobre algo que não era visto, mas muito comentado, estudado, citado, escrito, pesado, pensado, prosado, imaginado, idealizado, profetizado, desenhado, mas nunca visto, levando em conta de que o nunca também ganhou com o passar dos tempos um outro sentido nesta terra de promessas, já que o coitado não via passar na sua frente a muito a tal água, portanto, assim como um banco de dados que precisa deletar dos seus arquivos informações antigas para assim cederem espaços para novas, o nunca apagou da memória a última vez que viu correr por suas mãos, metaforicamente dizendo, a tal água. A população vivia, não se sabe Deus como, de ouvir falar. Porém, após investimentos nunca visto em nenhuma outra administração pública, a água deixaria de viver no imaginário para estar ao lado de todos aqueles que por ela por tantos anos oraram, que Deus a tenha, alguns até diziam.

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