quinta-feira, 26 de junho de 2008

Borboletas Amarelas

Árvore Azul

A vida que temos vai até onde sabemos. As borboletas sabem o quão é curta a vida, talvez porisso sejam tão belas. Uma vez vi uma borboleta amarela vagar entre muitas árvores. Foram tantas que mal pude saber o quanto vôou. Era uma borboleta amarela e borboletas amarelas são raras por aqui. Sem entender o seu motivo lá se foi aquela voando desengonçada contra o vento. Escrevia em seu caderninho tudo o que encontrava em seu caminho. Um pouco tímida e sorridente por momentos desaparecia, o que me causava apreensão, pois esses animais vivem tão pouco que de tão pouco não seria o bastante para mim. Já havia me acostumado com sua presença distante. Eu não sou biólogo. Nada conheço sobre categorias e espécies de plantas e animais. Sou somente um poeta viajando pelo mundo procurando beleza para viver e escrever. A beleza é simples e possível, e, assim como um poema, pode ser um pequeno instante que dura a vida toda. A vida pode não ser toda ela, mas se houver nela um momento, mesmo um pequeno momento capaz de preencher toda a alma e nos deixar inteiros o suficiente podemos, quem sabe, jamais temer o resto. Pensando nisso que um dia de sol resolvi me aproximar daquele bichinho que encolhido numa flor do cerrado brincava com as próprias mãos. Ao me aproximar dela parecia saber que eu desejava um sorriso, porque como por um encanto ou mesmo obediência me olhou e sorriu com ternura. Encabulado, me sentei em outra flor, e conversamos como se fôssemos da mesma família. Aquela tarde iria me ensinar alguma coisa. Quando pensei em abraçá-la ela havia me abraçado. Quando pensei em beijá-la, seus lábios já haviam encostado nos meus. Antes do sol se despedir, quando não tínhamos quase algum segredo e admirado pelos seus olhos distantes e serenos disse sem pensar que o mundo era pequeno e seus olhos tristes, mas tão tristes que ficaram tranquilos por saberem que o mundo é mesmo triste. Sem nada a dizer continuou a olhar aquele pôr-do-sol que parecia não acabar nunca pintando o mundo inteiro de amarelo. Olhava, mas olhava como se se estivesse fora da janela, fora dos próprios olhos. Olhava mas não olhava apenas; vivia cada expressão, cada contorno dourado como se parada também voasse. Então uma alegria me tomou de repente e pensei num imenso sorriso. Estávamos sorrindo juntos. No mesmo instante. Juntos. E, no mesmo instante que entendi qua a vida que temos vai até onde sabemos. Naquela flor ficara uma pequena caixa amarela com duas borboletas pintadas. Uma partira, outra ficara. As duas juntas para sempre.

2 comentários:

Raiça Bomfim disse...

"... a vida que temos vai até onde sabemos...". É preciso aprender vidas lagas e boas...

Lindíssimo.

Ana Lívia disse...

para sempre