sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Herança

Mayrant Gallo
Minha mãe sempre dizia que era para eu ter nascido catorze anos antes. Em 1948, portanto. Bem no pós-Guerra. Mas qual seria a diferença, se assim fosse? Acho que nenhuma. Eu seria hoje mais velho, mais experiente e, sem dúvida, mais amargo. Mas talvez nem tivesse me tornado escritor, talvez nem gostasse das palavras, dos livros. Preferisse carros, pôquer, corridas de cavalo, jardinagem. Sou filho de um contexto, dono de uma herança: gasto o que me formou, o que os dias me deram. Esses dias, iniciados em 1962 e que alguma coisa, num momento qualquer deste ou dos próximos anos, haverá de interromper.

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