terça-feira, 23 de outubro de 2007

Janela fluida

Raiça Bomfim
Quando o azul celestino
vinha à beira da aragem
e o verde alaranjava
na paisagem,

os lençóis faziam ninho
pra seu corpo desvelado.

Cortinas desabotoavam-se
penetradas pelos raios
derradeiros.

Espelhada no ocaso,
ela entregava-se ao sono,

enquanto pássaros e insetos,
ajanelando-se no bálsamo,
celebravam, em cantoria,
a plenitude dos orvalhos.

4 comentários:

Anônimo disse...

É incrível a imagem que faz transbordar das palavras. A reticência da aurora que toca a penumbra macia dos lençóis, que lhe contornam o corpo e lhe oferecem o conforto de mais uma manhã amada. Ah...doces palavras que correm, correm leves pelos olhos atentos. É pontual, contudo, o uso de palavras como alaranjava, desvelada, desabotoavam, ajanelando, derradeiros, insetos, ocaso. São sequências ritmicas, que carregam sobre elas a negação, ou a ponderação dos termos, o talvez. É como se de fato estivessemos pintando um quadro e dissemos que o azul é uma mistura e por isso não se é simplesmente, depende sempre. O próprio uso do orvalho não se faz pleno (plenitude), porque se é orvalho. Ou seja: estado adventício da manhã.

doispontospontocom disse...

quadro impressionista.

Raiça Bomfim disse...

Sócrates, muito obrigada pela atenção e pelo cuidado das palavras com que ausculta os textos. Saiba que leio seus comentários sempre com muitíssima atenção.

Obrigada mais uma vez e abraço forte,

Raiça.

Sílvia Câmara disse...

O texto da Raiça é muito lindo mesmo.
Ótima escolha a sua em publicá-lo no doipontos.
um abraço,