domingo, 19 de agosto de 2007

Amor e amor

Ismael Teixeira


Chove Vermelho. Rimbaud na parede. Camisas de poesias uniformizam. Soldados na noite escrevem. Chove vermelho. Eu disse olhando a cidade. Ela fala que vê vermelho nas calçadas. Que escorre desejos. Saudades. Os carros deslizam de luzes apagadas. A luz apagada. As telas sem cinemas. Nada é real. Nós. Atravessamos vermelhos. Ultrapassamos sinais. Juntos como a cidade inteira. A boca. Ela é vermelha. Musa dos cabarés dança sem telhas. Sem paredes que fiquem no chão. Ao meu lado. Eu. Escritor. Ao meu lado a ditar os ritmos. Os ístimos de cada gole de sol. Ela perguntou se não o viu. O sol. Simplesmente disse a ela o que na verdade não sou. Ela sorriu. Apertou os olhos. Pensou o que pensou. Chove vermelho na noite. Pingos nos nossos olhos para se ver melhor. O amor que rola nas rosas. E escorre. Do céu. O amor em amor. Ela disse. E disse muito mais. Sobre os morangos que o carro tropeçava. Morangos grandes. Como corações exagerados. Entupiam as jantes para andarmos devagar. Continuei. Eu. Ou o escritor. Mas as palavras eram brasas e me queimavam devagar. Até não sobrar nenhuma. Mas ela não esfria. Continua. Amar sem parar de amar não pára. Não respeita o tempo. O outro que vislumbra o tempo. Como você. Depois da última frase sussurrou um verso. Verso que voltava a nós dois. Lembrar que chovia. E chovia para as carnes secas. O escritor já toalhas não tinha. Eu. Nem ela. Nem ninguém. A noite ficou ensopada de tinta. O carro naufragado em papel. Temporal de doce. Final molhado. Com um sorriso mergulhei do carro. O escritor beijou sua lágrima. Ela já sozinha. Pensou. Enfim. Eu gosto das coisas.

4 comentários:

Anônimo disse...

como se fosse um texto que ao ser escrito, diminuia algumas dores e um pouco de sal, mesmo não possuindo, hoje, os grandes morangos, prefiro não me contentar com somente a sua cor, e perguntar ela,se as suas llágrimas tem ma is gosto de tinta do que de papel em branco. traz um pouco de abundancia....em um tempo em que o vermelho se encontra na capa de um jornal, ao inves das veias de quem ama

Anônimo disse...

"Para se ver melhor". É emblemática está frase. Ela ressalta, pressiona os poros ao estado de ebulição, pulsação das veias venosas. É incrível a percepção de um olhar preocupado com uma realidade que não é real apenas no sentido do que se vê como real, mas também pelo que se sabe que é real. As lágrimas são reais, expressam a intesidade de um sentimento denso, resumido pela experiência que fala pouco mas diz muito ao apresentar a cor que toma pouco a pouco a vida. O autor, contudo, enfatiza bem ao contornar está cor com outros sobressaltos, sentidos. Boca, rosas, sorvete quem sabe, sangue, coração, vermelho.
Um ponto de extrema tato revela-se ao vislumbrarmos o calor das palavras que escorrem quentes - e o vermelho é quente - e pode ser bom - feito sussurros inesperados que esfriam. As palavras não podem esfriar. Mesmo após serem apresentados. Elas insistem. "Tenho uma amiga que poderia expressar isso bem melhor", disse a palavra.
No final, como não poderia ser diferente, os dois são embriagados pela paixão que impera sobre os ânimos de amantes condenados ao amor. A palavra e o escritor são faces de uma moeda chamada experiência.

Maíra Guedes disse...

É como se ele pegasse as palavras, e a cada passo quebrasse uma ao meio formando outra.Chuva.Pingo de chuva.Ele brincando,faz deslizar sobre o corpo dela gotas,vermelhas palavras.Amar é isso.Tomar um banho de chuva vermelha.

Ele sempre vai ter pincéis.

Maíra Guedes disse...

Me convida para um temporal de doce?