segunda-feira, 10 de março de 2008

A morte de Juca, a elipse ou um conto cinematográfico.

Chico Alves

Juca tinha acabado de acordar quando Luiza gritava por seu nome no lado de fora da casa. A noite anterior tinha sido uma daquelas. Nem ao menos se lembrara como chegou em casa. A roupa encharcada de cerveja não deixava dúvidas.
Luiza gritava e batia na porta de seu apartamento, decidida a por um ponto final naquela situação: ou ele parava com as farras homéricas, ou ficaria sozinho no fundo do poço. Ele preferiu a segunda opção. Luiza nem olhou pra trás, pegou suas coisas espalhadas pela casa, enxugou as lágrimas e partiu.
Ainda bêbado, Juca se barbeou, tomou banho, vestiu sua melhor roupa e saiu apressado. O cigarro de Juca ainda queimava quando Luiza apareceu na porta no Salvador Shopping, de mãos dadas com Felipe. Antes de entrarem no carro, Juca correu ofegante, e gritou. Agora era ele quem estava disposto a dar um fim naquilo tudo.
Enquanto Luiza o observava, Juca corria em direção a passarela, corria, corria, corria. Parou olhou para Luiza pela ultima vez, enxugou sua lágrima e partiu. Seu corpo caiu violentamente no capô de um ônibus que fazia a linha Lapa x Cajazeiras. No bolso da sua calça um pedido de desculpas. Juca finalmente pararia com as farras. Luiza chorava e tentava reanimar Juca com uma cerveja estupidamente gelada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Puta que pariu! Uma história, sem dúvida. Mas uma história breve, irônica e obscuramente bem humorada. Caramba.

Anônimo disse...

É um conto muito bom. Sem muitos rodeios, pois é simplesmente um enredo bem contado, cheio de ritmo e sem muito bolodório. É objetivo sem ser seco. É uma trama muito interessante. Teve uma parte que me assustou um pouco, pois fui surpreendido por uma mudança muita breve de atitude por parte do personagem principal, que de maneira inesperada foi até as ruas...e fiquei confuso se ele saiu atrás da mulher amada ou simplesmente saiu atrás da bebida. De qualquer maneira o texto é muito bom. Ele desencadeia as imagens com destreza e termina com uma irônia fantástica...não é Nelson Rodriguez, mas é tão sarcástico quanto. Na verdade é menos cruel e mais poético...
Quero ler mais os textos de Chico Alves...