quarta-feira, 19 de março de 2008

Escritos sobre a greve - 15º PARTE

Soul Sócrates

Após receber a correspondência das mãos do carteiro resolveu queimá-la imediatamente, mas leu-a com voracidade, confirmando que realmente o delírio que havia tido era de fato um delírio. Entre os envelopes, muitos cartões e rostos resplandecentes desejando felizes dias melhores para todos e todas, especialmente, para você que lê esse comunicado padrão encaminhado através da nossa mala direta, favor assinar com letras GARRAFAIS o documento que certifica a respectiva entrega desta lembrança que encaminhamos para o companheiro com tamanha satisfação e passar bem. O de sempre, teria pensado se não estivesse preocupado com os resquícios de delírios (como seriam essas sobras de pensamentos febris) que ainda passeavam em sua cuca. Pouco entendeu os traçados de linhas que lhe trouxeram até ali, em casa, sentado na poltrona que um dia seu avô, depois seu pai e posteriormente seu padrasto também caíram aos prantos. Procurou não criar mais suposições e se concentrou na leitura das 1979 páginas debruçadas sobre as suas sujas mãos. A leitura começou, mas o pensamento não a acompanhou. A única página que lhe interessava estava no varal, secando e desentranhando as manchas de sangue do seu conteúdo. Enquanto o sol e o vento faziam a sua parte, milhares de militantes imaginárias navegavam nas ondas virtuais em busca das últimas palavras escritas sobre a greve.

Escritos sobre a greve - 1º PARTE
Escritos sobre a greve - 2º PARTE
Escritos sobre a greve - 3º PARTE
Escritos sobre a greve - 4º PARTE

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