quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Nudez

Raiça Bomfim

Afora o homem tudo é nudez.

Debaixo de um céu enorme,
estalando na corredeira,
me ponho afora.

A nudez é anterior à gente
e comum aos outros.

A nudez é anterior...
Mas eu, mulher da cidade,
me dispo.

E tudo parece assombrar-se.

Como houvesse o nascimento
d’algum bicho
ou o retorno da rainha.

Ponho a humanidade
afora
e o mundo estranha.

Mas enfim me reconhece
e segue seu curso

contendo-me em espécie
e pulso
novamente humana,
finalmente humana...

Só existem homens nus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Delicado e doce. Uma poesia precisa e bela. "Eu sou estranho, mas não me estranho". Nudez ou Humanidade é um culto a tolerância, ao respeito, a essência.
Ele claro e limpo. Objetivo e poético. Vale ressaltar a pureza das palavras. Não fala da ingenuidade. Ela não existe e o poema mostra o quanto não somos ingênuos. Na verdade, o poema foge do óbvio e não fala de máscaras e hipocrisia, mas de sentidos e pessoas que aprendem a não gostar disto ou daquilo. Lembra muito o Nelson Mandela, quando realizou um belíssimo pronunciamento sobre o ódio adquirido. Ele dizia que as pessoas quando nasciam, não nasciam com ódio desta ou aquela cor de pele, mas aprendiam. E disse mais: que assim como aprenderam a ter ódio, poderiam aprender a amar. Nudez é um culto a humanidade e ao que Rousseau e Aristóteles classificavam como uma condição sumo bem dos homens.
Essa é o mais brilhante poema da autora.