Sócrates Santana
As coisas começaram a ficar evidentes, nem claras, nem escuras, evidentes. A unificação dos sindicatos, a falsa impressão que o partido era o governo, que o velho barbudo sofreu um golpe e uma liderança inimaginável assumiu o poder, que os nomes das ruas mudaram sem consulta prévia, que as eleições que aconteceram não aconteceram, e que a greve perdeu a validade, caiu em desuso, e que os Escritos sobre a greve são páginas de uma história em construção, que o livro no sovaco do menino de unhas por fazer não ensina nada, não comprova nada e que a qualquer momento todas as informações que possuía iriam colocar a sua vida em perigo, pois, logo logo uma carta iria cair sem maiores justificativas em suas mãos e nesta estaria escrito os próximos passos dessa novela. Depois de tropeçar em devaneios, olhou para o lado e viu uma menina sentada sobre um pedaço de banco de madeira, onde rabiscava um trecho de um poema "Arte longa vida breve Escravo não se escreve Escreve só não descreve Grita grifa grafa grava Uma única palavra Greve", parecia realmente evidente, ainda que o que parece possa não ser, ainda que o que é realmente seja uma convenção, ainda que a evidência seja uma dúvida, parecia, realmente, uma evidência, que logo se perdeu com o esfregão dos olhos de uma menino de braços sujos de sangue e verdade. A menina foi apagada como linhas de giz e o final da rua deu vez a próxima esquina, dobrada por pernas fragéis e orientadas por braços capazes de arrancar das entranhas de um homem todas as respostas de suas dúvidas, se assim for preciso.
Escritos sobre a greve 1º PARTE
Escritos sobre a greve - 2º PARTE
Escritos sobre a greve - 3º PARTE
Escritos sobre a greve - 4º PARTE
Escritos sobre a greve - 5º PARTE
Escritos sobre a greve - 6º PARTE
Escritos sobre a greve - 7º PARTE
Escritos sobre a greve - 8º PARTE
Escritos sobre a greve - 9º PARTE
Escritos sobre a greve - 10º PARTE
Escritos sobre a greve - 11º PARTE
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
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