quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Escritos sobre a Greve – 11º PARTE

Soul Sócrates

O velho barbudo ainda esboçava uma reação, perante o desespero do menino, que ainda não acreditava no ato pouco provável que realizou contra um homem, quando o mesmo tomou-lhe - em um só golpe - o livro e a vida. O menino subiu calado às escadas do metrô, com os braços sujos de sangue, livro no sovaco, cabeça baixa e um olhar compenetrado, distante dos papéis que voavam na rua para ilustrar a imagem descrita, dos meninos que preparavam mais um coquetel molotove e dos arrepios póstumos de um ancião das palavras inauditas, morto pelo ímpeto juvenil de descobrir a verdade. A atenção dele estava voltada para as frases absortas sobre o peleguismo e a liderança cinzenta que comandava centenas de militantes imaginários espalhados pela grande rede, e que reescreveu a Convenção Das Coisas Importantes Que Não Poderiam Ser Ditas e convocou numa aleatória manhã de um mês qualquer, todas as lideranças e simpatizantes do partido maior com alguns dias de antecedência, distribuindo camisetas, bandeiras, broches, praguinhas, bonés e textos persuasivos sobre a nova era e os novos rumos dos sinistros dirigentes dos sindicatos esquecidos para deliberar encaminhamentos sobre a diretrizes republicanas que deveriam ser adotadas pela renovada composição do diretório de todas as pessoas e nomes. Por isso, na cabeça do menino ainda giravam, como círculos, gangorras, rodas, balanços, espirais e propagandas de cerveja, os métodos usados para garantir lotação máxima no salão onde iria pronunciar o grande baluarte do partido, como os ônibus à disposição dos dirigentes sindicais, os vales combustíveis fornecidos na véspera das prévias extraordinárias para os grandes quadros partidários, assim como a chegada dos manifestantes nas primeiras horas do dia, para, em fila, cada um garantir seu lugar. Tudo muito revisado, organizado, repassado, fiscalizado e minuciosamente registrado no livro de atas da superintendência especial das cerimônias inesperadas da turma do deixa disto.

Escritos sobre a greve - 1º PARTE
Escritos sobre a greve - 2º PARTE
Escritos sobre a greve - 3º PARTE
Escritos sobre a greve - 4º PARTE
Escritos sobre a greve - 5º PARTE
Escritos sobre a greve - 6º PARTE
Escritos sobre a greve - 7º PARTE
Escritos sobre a greve - 8º PARTE
Escritos sobre a greve - 9º PARTE
Escritos sobre a greve - 10º PARTE
Escritos sobre a greve - 11º PARTE

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