sábado, 2 de fevereiro de 2008

Outono de um antigo quintal

Ismael Teixeira

Caio folhas no quintal dela. Penso que são minhas. As cores, gangorras, circo que fazíamos para não dormir à tardinha. Fim de tarde que crescia crescia nossos imensos corações tão pequenos. Caio folhas uma, uma. Descartando lembranças velhas como uma rosa seca que o namorado um dia colocou num livro. Amarelas, vermelhas, marrons. Páginas destacadas de um livro morto. De um só leitor. Vejo-as daqui de cima como olhamos a chuva da janela. Mas a dor do amor as vezes é lenta. E essas gotas secas vão planando leves, levadas pelo acaso, complacentes ao seu destino, simplesmente dançam uma lenta e triste música que ninguém pode ouvir sem ter cansaço. Aquele quintal já foi verde. As flores tinham mais cores, principalmente as margaridas, que de tão alegres e vivas as meninas que passavam não resistiam o ciúmes e diziam: que atrevidas!! O chafariz saia água de um anjinho gordo e que de tão gordo um dia desequilibrou e tibum na água para a zombaria dos passarinhos. As pedras. As pedrinhas brancas viravam corações e brincadeirinhas, e as janelas? Ah.. as janelas eram pintadas à guache e purpurinas. Agora, depois de tantos ventos, chuvas, sóis. Somente vejo o chão se encher de minhas lembranças. Coloridas lembranças que vão ficando secas, pasteis, como um pôr-de-sol em dia nublado. O balanço, a grama, nada parece mais escrever por aqui. Os versos sorrisos encabulados como se não mais conhecessem. Abraços distantes como se esquecessem como eram os abraços. Mas. Depois de tanto tempo. Eu, árvore velha usada sei que amor de verdade se faz de graça. E quando passa, agora, tão indiferente e ocupada, ao menos pisa em minhas lembranças mesmo que não sejam. Nada.

4 comentários:

Anônimo disse...

que se ha de dizer...

Anônimo disse...

Pode-se dizer tudo: o outuno já passou estamos no verão e o quintal sempre renova-se...

Anônimo disse...

Onde eu estou? Escrevo um espelho. Opaco. Deserto creme e mudo nem me olha. Escrevo rapidamente um rascunho de festa. O violão sem cordas tem ao menos curvas, dirijo rápido enquanto escrevo paisagens. O horizonte respira a cada ponto cego, ela escreve rápido perdendo palavras. Escrevo rápido um gatilho e a pressa, borrifo tinta, tinta, tinta... Poças no gargalo das dunas de areia creme. Escrevo rápido antes que a cor escorra, escrevo dragando versos esturricados. Arranco as linhas com letras pedregulhos. Quem vem lá? Responda depressa! É tarde e a hora avançada. É preciso escrever antes que escureça. Terminar pelo menos até o ponto. Até o ponto sim, ponto de seguimento. É preciso escrever, antes que a tinta acabe. E se rachar tinta em mim? É preciso escrever rápido, enganar o cansaço. Escrevo cravo e preciso escrever antes. Ele não vai saber ler suas rachaduras! Ela escreve cidades em concreto encarnada. Um canto raspado em pauta de linha branca. Escrevo rápido, perdendo as unhas. Ela escreve, seca. Farelo dos pedaços.

Anônimo disse...

Babi...belo texto Ismael...